A presença de um esporão ósseo (ou mais de um), na coluna vertebral – seja na altura do pescoço ou das costas- não é um diagnóstico incomum nos exames de imagem solicitados por ortopedistas. A condição chamada popularmente de Bico de papagaio, cientificamente nominada osteofitose, é apenas uma simples indicação de que há degeneração da coluna vertebral. O fato é comum após os 60 anos de idade.
A presença de esporões na coluna vertebral não significa necessariamente que a osteofitose seja a verdadeira causa da dor nas costas ou no pescoço.
O termo “esporão ósseo” é certamente um pouco equivocado. A palavra “espora” implica que esses crescimentos ósseos estimulem ou cutuquem alguma parte da anatomia espinhal e causem dor. No entanto, contrariamente a esta afirmação, esporões ósseos são estruturas lisas que se formam durante longo período de tempo. Daí a preferência pelo termo científico osteófito no decorrer desse artigo.
Osteófitos representam um alargamento da estrutura óssea normal. Sua presença é basicamente um marcador radiográfico de degeneração espinhal (envelhecimento). A condição, que se convencionou chamar bico e papagaio aparece em raios-X, ou ressonâncias magnéticas como um achado normal à medida que envelhecemos. São alterações muito frequentemente encontradas após os 50/60 anos de idade.
A coluna vertebral é feita de trinta e dois segmentos vertebrais separados por discos intervertebrais feitos de colágeno e ligamentos. Estes discos são amortecedores de choque e permitem um grau limitado de flexibilidade e movimento em cada segmento espinhal. A estrutura permite uma gama complexa de movimentos em torno do eixo da coluna vertebral, especialmente o pescoço (coluna cervical) e parte inferior das costas (coluna lombar).
O movimento entre cada segmento é limitado pelos ligamentos do disco externo e as articulações que se movem (articulam) em cada nível espinhal. Sob cada articulação, logo atrás do disco, há um par de raízes nervosas que saem do canal espinhal. O orifício de saída (forame) que rodeia o nervo é relativamente pequeno e tem pouco espaço para qualquer coisa além do nervo.
Estressores da vida normal, possivelmente agravados por lesões traumáticas na arquitetura da coluna vertebral, são os principais responsáveis por causar degeneração nos discos e nas articulações da coluna vertebral. Fatores como idade avançada e má postura também podem prejudicar a conformação natural da coluna. Eles causam danos cumulativos nos ossos e nas articulações da coluna vertebral.
Por exemplo:
Mudanças degenerativas no tecido vital normal se iniciam no início da idade adulta, mas geralmente esse processo lento não resulta em compressão do sistema nervoso até os 60 ou 70 anos de idade.
Fatores que podem acelerar o processo degenerativo e bico de papagaio na coluna vertebral incluem:
Para ajudar a evitar ou minimizar a dor nas costas é aconselhável manter-se bem condicionado (tanto em termos aeróbicos quanto anaeróbicos – força muscular) e manter uma boa postura durante toda a vida.
Há uma série de condições da coluna vertebral comumente relacionadas com o desenvolvimento de “bico de papagaio”. Algumas delas são mais importantes:
As articulações facetárias se degradam com a artrose e diminuem os forames, nome dos canais por onde as raízes nervosas saem da coluna para atender o restante do corpo. A compressão dessas raízes é causa de dor local ou irradiada.
Ortopedistas muitas vezes se referem à essas alterações como artrose na coluna vertebral ou artrose das articulações facetárias (artrose facetária). Esta condição é uma causa premente de dor nas costas na população de pacientes mais velhos (mais de 60 anos).
A artrose na coluna pode causar rigidez e dor lombar que geralmente é pior de manhã, fica melhor depois do “aquecimento” e movimentação e, em seguida, fica pior novamente ao final do dia.
A causa mais comum de artrose cervical e da artrose lombar é uma predisposição genética. Os pacientes podem tipicamente desenvolver sintomas de artrose dos 40 aos 60 anos. Os homens são mais propensos a desenvolver sintomas relacionados com artrose mais cedo. No entanto, as mulheres pós-menopáusicas com a coluna enrijecida (formação de esporões ósseos acelerado) rapidamente alcançam os homens na incidência e gravidade da artrose na coluna.
O canal da medula se torna estreito devido a formação de osteófitos. O alargamento do osso causado pelo contato forma o chamado osteófito (bico de papagaio) e pode às vezes levar ao estreitamento do canal espinhal (um conduíte de nervos) e resultar em estenose espinhal.
Esta condição pode causar compressão do nervo levando à dor para baixo no sentido das pernas. Essa dor se apresenta pior quando o paciente está de pé ou caminha, e é aliviada quando se está sentado. A estenose espinhal não pode ser prevenida, mas pode ser tratada.
Existe uma vasta gama de opções de tratamento possíveis para os esporões ósseos sintomáticos na coluna vertebral.
Dor nas costas ou dor no pescoço, dependendo da localidade dos osteófitos, é muito comum quando as articulações facetárias estão inflamadas e os músculos do pescoço tornam-se irritados.
Os sintomas típicos relatados pelos pacientes que tem bico de papagaio incluem:
Os sintomas de bico de papagaio (osteofitose) são agravados com o movimento e muitas vezes melhoram com o repouso se as raízes nervosas são comprimidas apenas em determinados movimentos da coluna.
Os sintomas típicos de bico de papagaio lombar (osteofitose lombar) muitas vezes melhoram quando a pessoa está dobrando as costas para frente. Inclinar-se sobre um carrinho de compras ou sobre uma bengala alivia a compressão as espaçar as aberturas disponíveis nos forames por onde saem as raízes nervosas.
À medida que os nervos ficam comprimidos, os pacientes com bico de papagaio (um ou mais osteófitos) queixam-se de vários sintomas neurológicos, incluindo:
Os sintomas descritos acima também podem ser causados por condições médicas diferentes do bico de papagaio, incluindo, mas não limitados a:
Muitos dos sintomas de esporão ósseo/osteófitos são semelhantes à artrite generalizada, reumatismo, tensão nas costas e fadiga muscular, bem como rupturas agudas do disco com herniação e compressão nervosa.
Como os sintomas típicos de osteofitose são freqüentemente semelhantes a muitas outras condições possíveis, é importante que o paciente consulte um ortopedista especialista em coluna para obter um diagnóstico completo e preciso.
A avaliação diagnóstica começa com o exame clínico. O ortopedista especialista em coluna deve realizar uma avaliação neurológica e espinhal detalhada avaliando a compressão do nervo espinhal e da medula.
A chave no processo de diagnóstico é correlacionar a história do paciente, sintomas e realizar testes adicionais para determinar a causa da dor do paciente.
Testes diagnósticos comuns para auxiliar no diagnóstico incluem:
Testes eletrocondutores: são comumente realizados para documentar a gravidade da lesão do nervo espinhal. Os testes de eletromiografia e de condução nervosa excluirão a possibilidade de compressão do nervo periférico, como acontece na síndrome do túnel do carpo.
Radiografias: Um raio X da coluna vertebral pode determinar a extensão das alterações causadas pela artrose na coluna e a formação de osteófitos. Com os exames na mão, o ortopedista especialista em coluna pode determinar se estão presentes alterações destrutivas ou são indicadas outras imagens radiográficas.
Tomografia computadorizada com mielografia e / ou ressonância magnética: pode fornecer detalhes sobre a mudança na arquitetura da coluna vertebral e do grau de compressão do sistema nervoso. Com o resultado dos exames seu ortopedista correlacionará os sintomas clínicos com achados radiográficos. Assim poderá tomar a decisão por uma cirurgia da coluna vertebral ou não.
Conforme previamente referido no início do artigo, a presença de esporão ósseo (osteófito) nos exames de imagem, não são indicadores obrigatórios da causa de dor nas costas. Portanto, os exames são uma ferramenta útil no processo de diagnóstico, mas individualmente eles não fornecem por si mesmos um diagnóstico.
Existe uma vasta gama de opções de tratamento possíveis para bico de papagaio na coluna vertebral.
A maioria dos pacientes com compressão nervosa leve ou moderada e comprovação de irritação causada pelos esporões ósseos (osteófitos) pode gerenciar seus sintomas de forma eficaz com cuidados não-cirúrgicos, tais como:
Medicamentos anti-inflamatórios e relaxantes musculares, por aproximadamente 4 a 6 semanas.
A atividade pode inflamar as raízes nervosas pela compressão e/ou atrito, assim um período curto do descanso é inicialmente apropriado.
Após 1-2 semanas, fisioterapia, exercício e ajuste quiroprático muitas vezes alivia as condições articulares dolorosas. Essas modalidades tentam restaurar flexibilidade e força no pescoço e nas costas, melhorando a postura e possivelmente diminuindo a compressão nos nervos. No entanto, a compressão do nervo com dor radiante em um braço e perna deve ser clinicamente investigado antes de se iniciar qualquer forma de terapia de reabilitação.
As injeções de cortisona epidural têm valor terapêutico potencial para alguns pacientes com inflamação da faceta articular, reduzindo o inchaço das articulações e melhorando a dor espinhal e a dor irradiada. Os resultados são geralmente apenas temporários, mas repetir as infiltrações eventualmente pode ser indicado para alívio de do crônica além de permitir que o paciente progrida com a reabilitação.
Uma consulta com o ortopedista especialista em coluna é apropriado se essas medidas não-cirúrgicas para tratar esporões ósseos falharem. O encaminhamento precoce é apropriado se os pacientes sofrem de dor intensa ou há evidência clínica de compressão e danos nos nervos espinhais.
A cirurgia da coluna, tal como a laminectomia, é projetada para aliviar a dor e os sintomas neurológicos removendo os esporões ósseos (osteófitos) e os ligamentos espessados que causam a compressão dolorosa do nervo.
A laminectomia retira uma parte ou a integralidade da porção chamada lâmina de uma ou mais vértebras. Com o procedimento abri-se o canal espinhal para a passagem da medula, descomprimindo-a e reduzindo ou eliminando a dor nas costas.A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia de coluna para remoção de osteófitos tem bons resultados ganhando anos de alívio e melhora na qualidade de vida.
Estudos têm demonstrado que a idade não é um fator importante para determinar se uma pessoa vai se beneficiar da cirurgia de coluna para bico de papagaio. No entanto condições médicas, muitas vezes associadas à idade, como pressão arterial elevada, diabetes e doenças cardíacas podem influenciar os riscos cirúrgicos e retardar o processo de recuperação devendo-se ter em conta para decisão sobre a cirurgia.
A cirurgia de coluna para remoção de osteófitos torna-se necessária se a compressão do nervo ou da medula espinhal está causando dor ininterrupta ou perda motora documentada pelo exame. É importante discutir os riscos e benefícios das várias abordagens para a cirurgia da coluna vertebral com o seu ortopedista especialista em coluna para entender todos os fatores envolvidos.
Inspirado em texto de Spine Health - Fonte: http://www.ortopediabr.com.br/bico-de-papagaio-osteofitos-osteofitose/